Bepe Damasco
Jornalista, editor do Blog do Bepe
STF responderá à história por sua conivência com Cunha
Não agora, pois se beneficiará dos efeitos de um país doente, com
instituições e mídia monopolista manchadas pelo golpismo mais infame.
Mas o Supremo Tribunal Federal não escapará do veredicto da história. Ao
permitir que um bandido como Cunha ficasse de mãos livres para agir, a
mais alta corte do país escreveu mais uma página triste de sua história.
Só o apoio à tese da ruptura da ordem democrática a qualquer preço,
embora velado e escamoteado, pode explicar a omissão da Corte diante
das manobras de um criminoso. Em dezembro do ano passado, ou seja, há
longos cinco meses, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
encaminhou ao Supremo pedido de afastamento de Cunha da presidência da
Câmara dos Deputados.
O procurador, por sua vez, já demorara uma eternidade para pedir
providências ao STF. Abro um parênteses : imaginem a celeridade tanto da
PGR como do Supremo se por ventura o presidente da Câmara fosse do PT ?
Fecho parênteses. Então, não cabe mais especulações sobre a demora do
Supremo em apreciar o caso Cunha.
Passaremos atestado de burro para nós mesmos se dermos ouvidos a
quaisquer justificativas burocráticas, regimentais, etc, para essa
absurda e pusilânime demora. Não é crível que os senhores ministros
sessentões e setentões não soubessem que Cunha na presidência da Câmara
conduziria, apoiado pelo bando de zumbis que o cerca no parlamento, um
processo de impeachment ilegal, sem crime de responsabilidade, cheio de
vícios e levado adiante com toda sorte de molecagens.
E aí não é possível livrar a cara de nenhum dos ministros. Por ação
ou omissão, em maior ou menor grau, todos carregarão essa macha em sua
biografias. Claro que cabe distinções quanto ao padrão de conduta
jurídica e moral que exibem. Nada se compara em termos de partidarização
mesquinha, e da falta de mínimo de compostura exigida dos verdadeiros
juízes, a Gilmar e Tofolli.
Feita a ressalva, a inação do presidente Lewandowski, Barroso,
Zavaschi (que chegou a dizer que não há prazo para o julgamento de
Cunha) e Marco Aurélio (que se limitou a apontar a fragilidade da
acusação contra Dilma e depois saiu de cena) é inaceitável e leva à
conclusão estarrecedora para a sociedade de que mesmo as melhores
cabeças da Suprema Corte acabaram se curvando à vilania do golpe.
O Supremo permitiu que Cunha, maior expoente da escória da política
e acusado de um sem número de crimes, liderasse um processo para apear
do poder uma mandatária eleita com 54 milhões de votos. Por isso, a
instituição STF é parte fundamental do golpe e caminha para mais uma
condenação no implacável tribunal da história.
Depois de ter recentemente chancelado a farsa montada pela Ação
Penal 470, nítida encenação político-midiática para ferir o PT, agora
suas excelências abdicam da prerrogativa fundamental de defender a
Constituição, revivendo episódios abjetos do passado.
Vale lembrar que o Supremo carrega a nódoa de ter grande
responsabilidade pela deportação de Olga Benário Prestes, para ser
assassinada num campo de concentração nazista, pela cassação do registro
do Partido Comunista do Brasil em 1947 e pela validação, em 1964, da
manobra golpista de decretar a vacância da presidência quando Jango se
encontrava em território nacional.
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