Por que Gilmar Mendes tem medo do Lula?
Gilmar investe no quanto pior, melhor; quer ver o governo paralisado, de mãos atadas enquanto ele ateia fogo no circo.
As jogadas do Gilmar Mendes no tabuleiro do golpe são sempre calculadas e
orquestradas com os operadores do condomínio
jurídico-midiático-policial. Ele é um ator relevante da engrenagem
golpista no STF, e não se constrange em decidir com fidelidade
doutrinária e ideológica ao PSDB, e não à Constituição.
Na última jogada, ele atendeu liminar do PSDB-PPS e suspendeu a posse do
Lula na Casa Civil. Ao mesmo tempo, remeteu a investigação do
ex-presidente para o justiceiro Moro.
Essas decisões foram proferidas no dia 18 de março, uma sexta-feira que
antecedeu o recesso do Judiciário brasileiro na Semana Santa — a escolha
da data não foi aleatória.
Em seguida, foi desfrutar o bom feriado enquanto o país ardia em chamas —
voou a Portugal para evento nos dias 29 a 31 de março do Instituto de
Direito Público, do qual é sócio-proprietário. O seminário, concebido
para “divulgar” internacionalmente o golpe, teve Aécio Neves, José Serra
e o vice-presidente Michel Temer — que participou em vídeo, pois
preferiu ficar no Brasil preparando a Convenção do PMDB contra o
governo. A FIESP não mandou palestrantes, mas patrocinou o evento que,
afinal, foi um fiasco: populares locais chamavam os participantes de
golpistas e as autoridades e especialistas portugueses, apenas
percebendo a torpeza do evento, cancelaram sua participação.
Com a ausência prolongada do país, e sendo o juiz titular da decisão
liminar, Gilmar conseguiu trancar o julgamento do mérito pelo Pleno do
STF, que ainda segue pendente – a matéria poderá finalmente ser
derrubada no plenário do Supremo na sessão desta quinta-feira, 07 de
março.
A anulação da posse do ex-presidente não tem fundamento jurídico, e
Gilmar sabe disso. É ocioso, em se tratando dele, reclamar a flagrante e
inconstitucional intromissão do Poder Judiciário no Poder Executivo,
que poda o direito elementar da Presidente da República governar e
nomear as pessoas que integram seu governo.
A decisão dele interfere na estabilidade institucional e desequilibra as
relações entre os Poderes. Uma decisão que contém claro interesse
político-partidário, tomada por quem instrumentaliza o cargo público que
ocupa no Judiciário para a luta política.
A situação é espantosa. O governo está há praticamente um mês sem poder
empossar o chefe da Casa Civil, que é um órgão vital. Gilmar fez isso
com consciência, para obstruir o funcionamento do governo, para impedir
Dilma de governar com a colaboração do Lula.
Gilmar tem medo do Lula, ele sabe que o Lula é a alternativa de saída da
crise e a grande esperança do povo brasileiro para reconquistar a
trajetória de desenvolvimento com políticas de igualdade e justiça
social. Ele conhece a genialidade política e a autoridade moral do Lula,
um líder como poucos na história brasileira, portador de inigualável
poder de convocação do povo brasileiro para a resistência democrática e
para a sustentação da Dilma na travessia de superação da crise.
Gilmar investe no quanto pior, melhor; quer ver o governo paralisado, de
mãos atadas enquanto ele ateia fogo no circo. Gilmar usa e abusa de
métodos para procrastinar processos no STF de acordo com as
conveniências tucanas, como fez trancando por 14 meses a votação da ADIN
da OAB sobre a proibição de financiamento empresarial de partidos e
políticos, para citar um exemplo.
Gilmar Mendes e Eduardo Cunha jogam juntos no xadrez do golpe. Enquanto o
primeiro usa o STF para retardar ao máximo a entrada do Lula no
tabuleiro, o segundo usa a Presidência da Câmara dos Deputados — que
espantosamente ainda ocupa porque o STF ainda não julgou seu pedido de
afastamento — para alucinar o ritmo do impeachment com Lula impedido de
assumir a Casa Civil.
Gilmar tem medo do Lula. O medo que o Gilmar tem do Lula é o mesmo medo
dos golpistas — é o medo de ver Lula ajudando Dilma a dar a volta por
cima. O medo do Gilmar é o medo do Temer, Cunha, Aécio, Serra, Alckmin,
do FHC; é o mesmo medo da Marina e dos atuais mandantes do PSB que
mancham a linda história escrita por João Mangabeira e Miguel Arraes; é o
mesmo medo que a Globo, a Veja, a IstoÉ, Folha, Estadão, RBS têm: o
medo do retorno do Lula, o medo de verem escorrer por entre os dedos a
melhor possibilidade que já tiveram de desfechar o golpe contra a
democracia e a Constituição.
Jeferson Miola
No Carta Maior
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